quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pizza de calabresa

Na semana passada estive na Espanha a trabalho durante 3 dias. Mas nada de Madrid, Barcelona... era uma cidadezinha no norte da Espanha, na província da Navarra, a umas duas horas da fronteira com a França. O pessoal que nos recebeu por lá era muito simpático e em uma das noites fomos juntos jantar em um restaurante típico, para que pudéssemos conhecer os pratos daquela região. Um destes pratos era uma entradinha – um “tapa”, como dizem os espanhóis – que consistia basicamente em um legume estranho que, segundo o que me explicaram é típico da região (sorry, vou ficar devendo o nome!) preparado com um molho a base de creme de leite.

A estas alturas vocês devem estar se perguntando o que raios isto tudo tem a ver com pizza de calabresa. Pois bem, já chego lá. Quando o tal “tapa” chegou e estávamos experimentando, um dos espanhóis me contou que ele tinha morado durante 3 anos na Alemanha, e que durante estes 3 anos às vezes ele ficava com uma vontade maluca de comer o bendito legume, coisa que ele achava muito estranha porque antes ele nunca tinha dado muita bola – ok, antes ele achava o negocinho gostoso, mas não era O melhor-prato-do-universo-meu-favorito-queria-comer-isso-todo-dia. E de repente, na Alemanha, era do que ele mais sentia falta em relação a comida.

Aí eu fiquei pensando que realmente este fenômeno esquisito deve acontecer com grande parte das pessoas que moram fora de seu país. Comigo, em todo caso, acontece. Com duas coisas: pizza de calabresa e coxinha. Poderia ser com feijão, coisa que eu comia praticamente todo dia no Brasil, mas não. Quando vem vontade maluca, é de pizza calabresa ou coxinha.

A minha explicação para isto é a dificuldade: tudo que é difícil é mais gostoso. Feijão vende na Coisas do Brasil, lojinha brasileira onde eu vou de vez em quando comprar umas coisitchas. Ou seja, mesmo se eu não tiver mais feijão em casa, é só ir na lojinha que lá tem. Coxinha eles tem também - na teoria. Na prática, em todas as vezes em que fui lá, não tinha. Coxinha tem com certeza  nos restaurantes brasileiros em Paris. Mas não dá para ficar indo em restaurante quando dá os 5 minutos, ainda mais nos restaurantes brasileiros que vivem lotados e tem que reservar, e ainda por cima a coxinha faz parte de uma porção de uns 6-7 mini salgadinhos e que custa uns 9 euros mais ou menos. Ou seja, coxinha já é bem mais complicado para comer. (Existe também a possibilidade de fazê-las -o que também é extremamente trabalhoso. Devo tentar isto em breve porque o Philippe, amigo francês que estudou na Unicamp, está doidinho para se empanturrar de coxinha)

E aí, finalmente, eu chego na pizza de calabresa. Não tem calabresa na Coisas do Brasil, e nem em nenhuma das outras lojinhas brasileiras que tem em Paris. Já liguei em todas para perguntar. Já perguntei na Coisas do Brasil e eles dizem que não importam mesmo. Não vi no cardápio de nenhum dos restaurantes brasileiros em que já fui. Ou seja, até segunda ordem, não tem calabresa para vender na França.E por isso pizzas como esta aqui embaixo, que eu fiz outro dia, é só quando alguém traz o “contrabando” na mala para mim:


Algo tão raro, só pode ser mesmo muito gostoso, não ?!


P.S. Se você ficou curioso com os produtos brasileiros que são vendidos aqui na França, clique aqui para entrar no site da Coisas do Brasil.
P.S.2 Se alguém que estiver na França souber de algum lugar que tenha calabresa, esta informação vale euros! hahaha

domingo, 23 de janeiro de 2011

Um ano em Paris

Ontem, dia 22 de janeiro, fez um ano certinho que cheguei na França. A Tati já contou no blog dela a historinha de como eu vim parar em terras francesas (cliquem aqui), mas como não é todo mundo que me lê aqui que conhece a Tati, resolvi que ia aproveitar a ocasião para contar a minha versão de como tudo começou. Lá vai...

Quando eu tinha 14 anos,  cismei que ia aprender francês e que um dia conheceria Paris. Cismei, pronto. Entre a adoração pelos Hanson (mmmbop, ba duba bop, ba du bop...) e a paixonite pelo Leonardo DiCaprio compartilhadas com as amigas (hahaha, vcs não acharam que eu ia me queimar sozinha, né?!), arrumei tempo para cismar com a França. Até atormentei o meu pai para que ele me comprasse a coleção de francês do “Curso de Idiomas Globo”, com uns 25 livros e fitas cassete (ô naftalina, como diz a Tati) para aprender a língua. Claro que a decisão de aprender francês sozinha durou uns dois livros e meio e a coleção ficou lá tomando pó na estante – logo tem o vestibular, tem já coisa demais pra estudar... deixa aí pra mais tarde... quem sabe...

A adolescente (que gostava de Hanson, Leo DiCaprio e Paris) e seus amigos
Pois bem. O tempo foi passando, as paixonites de adolescência também, mas o sonho de conhecer Paris ficou guardado. Veio o vestibular, entrei na Unicamp. Logo percebi que muitos dos meus professores tinham feito uma especialização, um mestrado, um doutorado, alguma coisa na França. A minha parte cismada pensava “opa, pode ser assim... Termino a faculdade e depois me candidato a um mestrado por lá”. Mas a oportunidade acabou aparecendo antes, quando a Unicamp assinou um convênio de duplo diploma com o grupo das Ecoles Centrales da França (Paris, Nantes, Lyon e Lille). Entreguei minha candidatura. Fui chamada para a entrevista, quatro professores franceses me interrogando em inglês. Um deles, o mais baixinho, mais falante e mais invocado, pegando no meu pé com perguntas cretinas, me forçou até o meu limite, fez sair aquela parte dizendo “isso é o meu sonho! Quero ir!”. E um mês depois, chegou o e-mail dizendo que eu tinha sido uma das 5 pessoas escolhidas. Aquele baixinho invocado, M. Depeyre, tinha me ajudado a conseguir minha passagem para Paris. Aqueles livrinhos azuis com as fitas cassete iam finalmente servir para alguma coisa!

Desembarquei por aqui no finalzinho de junho de 2003, com mais 40 colegas universitários brasileiros vindos de vários lugares: Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará. Primeiro foram dois meses de curso de francês em Vichy, morando em casa de família, onde pude aperfeiçoar todos os meus enormes conhecimentos adquiridos em 5 meses de curso de idiomas globo. :-) E no final de agosto... Paris! (enfim, a Ecole fica na verdade nos subúrbios parisienses, mas vamos pular esta parte porque tira um pouco do charme hehehe)
Paris - 2004
Começaram as aulas, e entre os estudos, os passeios e as festas, tudo isto com os colegas, franceses e brasileiros, é claro, mas também italianos, espanhóis, chineses, russos, e etc etc, aos poucos foi se destacando para mim um certo par de olhos verdes. Franceses. Clément. Foram meses de paquera (ui que brega), até que começamos a namorar. Sabíamos que eu estava na França por tempo determinado (2 anos), mas fomos curtindo. Carpe diem. Entre o primeiro e o segundo ano, tínhamos um estágio para fazer. Com a ajuda da minha mãe, arrumamos um (quer dizer, dois, né!) no Brasil, em Vinhedo, na fábrica de macarrão (obrigada ao Chico!).  O Clément voltou para a França já com um português bem razoável, e quando chegou a hora de eu voltar para a Unicamp, ele tinha sido aceito para o duplo diploma por lá também. Voltamos juntos. Terminamos a faculdade, começamos a trabalhar em empresas francesas no Brasil, mudamos para São Paulo, nos casamos em 2009 e, com o contrato dele terminando por lá, consegui uma transferência pela empresa para cá e resolvemos tentar a nossa sorte por aqui. De volta a Paris.

Sei que minha história com o Clément não tem nada de tão diferente assim, é meio “clássico” até, tem muita gente que já passou, está passando e vai continuar passando por isso. Mas o que eu gosto mesmo é de ficar pensando em como uma “cisma” de adolescente acabou virando realidade, de jeitos que, é claro, eu mal poderia ter imaginado...
Paris - 2010

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O inverno na cozinha francesa – Parte 2 – A raclette

Continuando os posts sobre o que eu chamo de “pratos clássicos do inverno francês”, vou falar hoje sobre a raclette.

Raclette na verdade é um tipo de queijo, feito a partir de leite de vaca, de origem suíça, mas hoje também fabricado em diferentes regiões francesas (mas principalmente nas regiões dos Alpes e do Jura – ou seja, nas montanhas que fazem fronteira com a Suíça). E a principal maneira de consumir o queijo raclette é em um prato que os suíços inventaram, os franceses adotaram... e que se chama Raclette! (criatividade....)

O nome raclette vem do verbo “racler”, que quer dizer “raspar”. O princípio da raclette tradicional é aquecer o queijo (que é relativamente grande) e raspar a superfície derretida no seu prato, em cima de batatas. O queijo pode ser aquecido em um aparelho específico ou diretamente sobre cinzas ou um forno a lenha (o que deve ser ligeiramente complicado). O aparelho de raclette tradicional é assim (foto encontrada no google, fonte original não identificada):


Como este aparelho é um pouquinho trambolhento, e além de tudo, para consumir tudo isto de queijo precisa de um batalhão de gente, algum espertinho teve a ideia de adaptar a raclette para ser feita em casa. O aparelho nada mais é que um monte de resistências elétricas que vão servir para aquecer e derreter o queijo, que é comprado fatiado (no supermercado ou em fromageries, as lojas especializadas em queijo) e colocado em pequenas bandejinhas individuais.

A raclette é, como a fondue, um prato convivial, para fazer entre amigos ou com a família. Deve-se cozinhar as batatas, preparar um prato de “charchuterie” (os embutidos: presunto, presunto de parma, salames, copa, etc.), alguns “cornichons” (pequenos pepinos em conserva), às vezes um pouco de salada. 


Cada um se serve do que quer, pega uma fatia de queijo, coloca para derreter na sua bandejinha – e depois despeja em cima da batata, assim ó:


Para acompanhar a raclette, bebe-se vinho branco, de preferência da região dos Alpes ou do Jura.

Nós ganhamos este aparelho de raclette da foto dos pais do Clément no Natal, e aproveitamos para testá-lo já na semana seguinte, para que meus pais pudessem experimentar o prato. Pelo jeito eles gostaram bastante! (mas eles podem desmentir nos comentários, se quiserem... hehehe)

Em breve, o último post da trilogia, com a tartiflette... aguardem!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Feliz ano novo! Bonne année!

Sei bem que do ponto de vista brasileiro, desejar feliz ano novo no dia 16 de janeiro pode parecer algo um tanto quanto estranho – coisa de gente atrasada, né. Mas como aqui na França se deseja feliz ano novo até o final do mês,  vamos considerar que eu estou dentro dos costumes locais. (Este negócio de desejar ano novo durante um mês vira um terror no trabalho, a cada vez que topo com alguém no corredor tenho que revirar a memória para ver se já encontrei a pessoa neste ano ou não. Isto porque, caso não tenha encontrado, tenho que desejar “bonne année” para não ser mal-educada, e caso já tenha encontrado, melhor não desejar nada para não parecer uma lunática esquecida).

Bom, o objetivo deste post, além de desejar realmente um bom 2011 para todo mundo, é “tirar a poeira” do blog, que andou mais abandonado do que nunca neste final/início de ano. Mas acho que a desculpa nem é tão esfarrapada assim: meus pais vieram passar o Natal aqui, então nada mais normal do que me dedicar totalmente a eles. Passamos o Natal junto com a família do Clément, aproveitamos para passear bastante pela Normandia, e depois voltamos a Paris para as visitas “básicas”. Agora que eles pararam de passar frio e voltaram para o verão (chuvoso, mas ainda assim verão) do Brasil, que eu voltei para o trabalho e botei as coisas mais ou menos em ordem, vou tentar voltar ao blog de uma maneira mais regular, inclusive com posts derivados destes passeios com meus pais.




Então, bom 2011 para todo mundo e está dada a largada para mais um ano de França...
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